sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

"Elas mudaram a forma como as decisões familiares são tomadas"


As maravilhosas mulheres brasileiras

CONSUMO
Emprego facilita ascensão
Conquista da renda própria garante autonomia financeira às trabalhadoras

DECO BANCILLON
ANA CAROLINA DINARDO


Com muita disciplina, a diarista Ivonete conseguiu comprar a casa própria. Agora, quer carro, geladeira, e um notebook igual ao da patroa (Monique Renne/CB/D.A Press
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Com muita disciplina, a diarista Ivonete conseguiu comprar a casa própria. Agora, quer carro, geladeira, e um notebook igual ao da patroa
Operadora de caixa, Maria Zélia controla todas as despesas de casa (
Ed Alves/CB/D.A Press
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Operadora de caixa, Maria Zélia controla todas as despesas de casa
 (
Monique Renne/CB/D.A Press
Patrícia fez curso de fisioterapia e planeja especialização em Paris)


O trabalho remunerado é o elo que conduz a ascensão das mulheres da nova classe média brasileira. Após anos de dependência financeira dos pais e, depois, dos maridos, elas decidiram romper com o mito da fragilidade feminina e assumiram as rédeas do orçamento doméstico. Hoje, com mais estudo, dinheiro no bolso e qualidade de vida melhor, elas mudaram a forma como as decisões familiares são tomadas.

Mesmo nos lares chefiados por pessoas mais novas, são as mulheres quem dão as cartas. É o caso da vendedora Alane Batista Lima, 23 anos. Há seis anos, quando tinha 17, ela teve uma gravidez não planejada. Do relacionamento de dois anos e meio com o ex-companheiro, restou apenas a filha do casal, Ana Cecília, hoje com 6 anos. Desde então, é Alane quem toma a maioria das decisões envolvendo o futuro da criança, da escola particular ao plano de saúde que contratou para a filha. “O que eu ganho é para cuidar bem da minha família”, ela diz, orgulhosa.

“Tornei-me chefe de família por necessidade”, diz a operadora de caixa Maria Zélia Marques, 62 anos. Durante toda a infância das filhas, era ela quem tomava as decisões de casa, e assim continua até hoje, após separar-se do marido e se aposentar. “Nossa situação até melhorou, depois que minhas filhas começaram a trabalhar e passaram a me ajudar com as despesas. Mas a parte pesada do orçamento é comigo, e não abro mão”, afirma.

Como ela, Francilene Maria de Souza, 26 anos, também decidiu rescrever a própria história após divorciar-se do marido, em setembro do ano passado. Depois de viver sete anos na dependência financeira do parceiro, decidiu que era hora de arrumar um emprego. Hoje, é ela quem diz o que a filha de cinco anos, Mariane, come e veste. “Todo o tempo estou decidindo alguma coisa. Sei tudo que tem e o que não tem nos armários de casa”, afirma.

Caminho parecido percorreu a diarista Ivonete Correia Pólvora, 40 anos. Há 12 anos, ainda morando em Bernardo Sayão, interior de Tocantins, ela decidiu separar-se do marido e tentar vida nova. Juntou tudo o que tinha e partiu com a filha, na época com 8 anos, para Brasília. Nesse período, sempre trabalhou fazendo faxina, mas, com organização, foi juntando dinheiro e conseguindo realizar parte dos sonhos. A primeira grande conquista foi a compra da casa própria, em Samambaia.

Em alguns anos, após vender bens que tinha em Tocantins, comprou uma segunda residência, cujo aluguel hoje serve de complemento da renda. Mas Ivonete tem outros desejos. Em 2013, quer comprar um notebook para a filha, trocar a geladeira e comprar um carro zero. “Futuramente”, ela diz, “quero ter também um apartamento”. Disposição para conseguir realizar os sonhos é o que não falta, garante Ivonete. “Hoje eu tenho liberdade de fazer o que eu quero. De ter planos e querer realizá-los.”

Trabalho doméstico

Muitas das mulheres da classe C mostram protagonismo após vencerem a barreira da falta de qualificação. Após encararem trabalhos como o doméstico, que, em geral, é a primeira ocupação das mulheres com pouca ou nenhuma instrução, elas se inserem em profissões mais bem remuneradas. Foi o que aconteceu com a fisioterapeuta Patrícia Félix de Souza Oliveira, 30 anos. Filha de pais analfabetos, trabalhou como diarista e como auxiliar de limpeza em um posto de combustíveis.

Aos 21 anos, ela engravidou e decidiu arrumar um novo emprego. “Eu tinha vergonha de dizer que meu pai era servente e que minha mãe trabalhava com faxina, então pensei no que o meu filho ia pensar de mim se eu continuasse com aquele emprego”, conta. Disposta a mudar de vida, Patrícia fez um curso de massoterapia. Depois, já trabalhando na área, ingressou na faculdade de fisioterapia. Formou-se no segundo semestre de 2011, e de lá para cá viu a renda mais que dobrar.

Com os ganhos do marido, o casal foi realizando sonhos que até então pareciam inatingíveis. Primeiro foi a casa própria, em Planaltina, e, depois, o carro zero, financiado em 72 vezes. Agora, Patrícia quer fazer uma especialização. “Vai ser um ano e meio de curso e, no final, vou fazer um estágio de um mês em Paris, na França”, diz a fisioterapeuta.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

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