segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Millôr Fernandes: "o rabo escondido, com o gato de fora"


Rosemary achou ser a Cleópatra de si mesma

Em artigo, Ruy Castro diz que apenas Nelson Rodrigues não se espantaria como uma 'simples secretária' que nomeou pessoas para cargos tão acima de sua posição na hierarquia.
247 – E se Nelson Rodrigues ainda estivesse vivo, o que diria sobre o novo escândalo da venda de pareceres técnicos? O colunista Ruy Castro faz as interpretações e diz que Rosemary Noronha convenceu-se de que era a Cleópatra de si mesma para nomear pessoas com cargos tão acima do seu. Leia o artigo publicado no jornal "Folha de S. Paulo":
Imagens
RIO DE JANEIRO - Nelson Rodrigues deixou centenas de frases definitivas, você sabe. Mas Nelson morreu em 1980, e o mundo seguiu sem ele. Daí que, diante de algum novo escândalo nacional, sempre me perguntam o que ele diria se ainda estivesse por aqui. Respondo que esse é um tipo de suposição em que ninguém me pega -tentar adivinhar o pensamento de Nelson Rodrigues. Mas a política é dinâmica e, de repente, talvez até algumas frases de Nelson tenham de ser revistas.
Sobre Brasília, por exemplo -não a cidade, mas o poder-, ideal para o planejamento e prática de atos ao largo da nação. Em 1969, Nelson afirmou que lá "todos são inocentes e todos são cúmplices" -frase que, com a ressalva de um ou outro breve intervalo de decência, atravessou décadas e chegou até nós. Pois pode deixar de se aplicar, agora que o processo do mensalão abriu a tampa do vaso e expôs os "malfeitos" que uma rede de cúmplices produziu e deixou para trás.
Já outra antiga imagem de Nelson, adaptada ao noticiário recente, tornou-se materialmente visível: a de que a corrupção no Brasil "pinga do teto e escorre pelas paredes". Só assim Rosemary Noronha, simples secretária de certo órgão, poderia nomear pessoas para cargos tão acima de sua posição na hierarquia. O único a não se espantar com isso talvez fosse Nelson. Para ele, não havia pessoa insignificante: "O mais humilde mata-mosquito pode se julgar um Napoleão, um César, e agir de acordo".
Como tinha costas quentes, Rosemary convenceu-se de que era a Cleópatra de si mesma.
E, ao ouvir os protestos vociferados de ex-grandes nomes da política contra suas condenações, alegando uma inocência de vestais, vem-me a imagem de Millôr Fernandes: "o rabo escondido, com o gato de fora".
Muito boa mesmo, exceto por não fazer jus à inteligência e à integridade dos gatos.

No http://blogdadilma.com/index.php/brasil/1432-ser65

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