terça-feira, 26 de julho de 2011

"Mais honesta ainda eu vou ficar! Só de sacanagem!" Elisa Lucinda



“Meu coração está aos pulos!
Quantas vezes minha esperança será posta a prova?
Por quantas provas terá ela que passar?
Tudo isso que está aí no ar:
malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro.
Do meu dinheiro, do nosso dinheiro
que reservamos duramente
pra educar os meninos mais pobres que nós,
pra cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais.
Esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais.

Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz,
minha confiança vai ser posta a prova?
Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem pra aperfeiçoar o aprendiz,
mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros
venha quebrar no nosso nariz.
Meu coração tá no escuro.
A luz é simples,
regada ao conselho simples
de meu pai, minha mãe, minha avó e todos os justos que os precederam.
‘Não roubarás!’,
‘Devolva o lápis do coleguinha’,
‘Esse apontador não é seu, minha filha’.
Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar!
Até habeas corpus preventiva,
coisa da qual nunca tinha visto falar,
sobre o qual minha pobre lógica ainda insiste:
esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará!

Pois bem, se mexeram comigo,
com a velha e fiel fé do meu povo sofrido,
então agora eu vou sacanear!
Mais honesta ainda eu vou ficar!
Só de sacanagem!

Dirão: ‘Deixe de ser boba!
Desde Cabral que aqui todo mundo rouba!
E eu vou dizer:
‘Não importa! Será esse o meu carnaval!
Vou confiar mais e outra vez.
Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos.’
Vamos pagar limpo a quem a gente deve
e receber limpo do nosso freguês.
Com o tempo, a gente consegue ser livre, ético e o escambal.

Dirão: ‘É inútil!
Todo mundo aqui é corrupto
desde o primeiro homem que veio de Portugal!’
E eu direi: ‘Não admito!
Minha esperança é imortal,
ouviram? Imortal!’
Sei que não dá pra mudar o começo,
mas, se a gente quizer,
vai dar pra mudar o final! “

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