quinta-feira, 6 de outubro de 2011

"Ela teve a coragem de declarar— apesar das reações corporativas — a indignação popular contra a impunidade."

A primavera de Eliana

Domingo 2, outubro 2011
Saber que existe uma corregedora nacional de Justiça como Eliana Calmon, capaz de apontar um dedo crítico em direção à própria classe, nos dá a esperança de ter uma Justiça consciente de que nenhum poder está blindado. Ela teve a coragem de declarar— apesar das reações corporativas — a indignação popular contra a impunidade. Essa indignação, facilmente identificada no território livre das redes sociais, encontra enorme resistência no mundo real. A bandeira de Calmon é um fio de esperança para quem aguarda mudanças efetivas na sociedade brasileira.
Saber que existe uma disposição dos governos para identificar e punir corruptos, embora os políticos ainda sejam levianos ao proteger seus pares no Congresso, também nos deixa mais otimistas.
A voz das multidões reverbera mais nas redes sociais, no espaço virtual, hoje tão acolhedor aos desabafos contra todo tipo de safadeza, sobretudo a dos políticos. Saber que esse é um caminho sem volta, que a revolta popular, aos poucos, ganha uma feição mais prática, mais ruidosa e menos corporativa, não financiada por partidos políticos e sindicatos vendidos, já é um alento.
Ainda sob a ameaça de ser declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, a Lei da Ficha Limpa pode ser interpretada tambem como um feliz e promissor começo, porque é apenas e de fato um começo. Da mesma forma, as manifestações populares, como a que se viu em Brasília na celebração do Sete de Setembro e outros protestos menores pelo país, podem ser consideradas o início da busca por nossa cidadania. Realmente poderia ter sido uma grande festa, mas a celebração do aniversário da Ficha Limpa na semana passada foi tão tímida quanto os efeitos práticos que ela produziu até agora. Não quero, com isso, desmerecer a grandiosidade do ato de recolher mais de 1 milhão de assinaturas e conseguir que o Congresso transformasse um projeto de iniciativa popular numa lei complementar — só o fato de fazer valer a vontade do eleitor já é um belo esforço e um mérito do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral e outras entidades da sociedade civil.
O recente leilão da casa construída com dinheiro público por Durval Barbosa, delator do esquema de corrupção no GDF, é uma prova concreta de que é possível restituir aos cidadãos o que foi roubado deles — mesmo que a mansão não tenha rendido o lucro que teria qualquer outra construção daquele porte no mercado imobiliário de Brasília. A pouca valorização do imóvel e o número reduzido de interessados são sinais de que a mancha da corrupção incomoda. Mais do que isso, ela marca de maneira perene.
Ainda que as iniciativas contra a ladroagem estejam em terreno movediço, sempre sujeitas a afundar com o peso do corporativismo, a tendência é que um país em crescimento como o Brasil, hoje um ímã das atenções mundiais, também evolua do ponto de vista democrático, revise seu sistema político e obtenha um visto permanente para o lugar onde se situam as grandes nações, nas quais a corrupção é vista como um flagelo e punida com cadeia.
Por  
No http://osamigosdobrasil.com.br/2011/10/02/a-primavera-de-eliana/

Nenhum comentário: