quinta-feira, 2 de junho de 2011

"Essa de igualar amamentação e masturbação é coisa de doido. Nunca pensei ler uma coisa dessas. Fico imaginando a volta que o tal colunista deu para conseguir igualar coisas tão distintas – mas naturais – do comportamento humano." Roberto Pereira

O ato sublime de amamentar



A primeira vez em que vi uma mulher amamentando se deu por volta dos meus nove ou dez anos de idade. Foi em uma praça em São Paulo nos anos 1960. Ela estava sentada sob uma árvore. Era gorda e maltrapilha. E a criança, muito pequena. Mãe e filho eram morenos, ou pareciam mais morenos porque estavam sujos.
Nunca vira um seio nu. Minha mãe se ocupava em me comprar alguma guloseima de um vendedor ambulante e, enquanto concluía a compra, eu admirava aquela parte da anatomia feminina que tanta curiosidade já me despertava por conta de que estava sempre coberta.
Quando a minha mãe se voltou e me viu admirando a cena, assustei-me. Alguma coisa me dizia que fazia algo de errado. Contudo, ela sorriu e, com o olhar, encorajou-me a continuar fazendo o que fazia. Outra mulher, na mesma banca de doces, disparou um olhar e um resmungo para o homem que a acompanhava e saiu balançando negativamente a cabeça.
Passei o resto do dia com aquela situação na mente. À noitinha, minha mãe me perguntou se queria saber mais sobre o que vira na praça. Comecei a disparar perguntas sobre por que as mulheres tinham seios e sobre por que o “nenê” sugava o daquela mulher. E, também, se era feio, aquilo.
Joanna Guimarães foi uma mulher de extrema cultura. Era fluente em nada mais, nada menos do que sete idiomas. Advogada, socióloga. Para ela, então, a sociedade em que vivíamos – suponho que se referiu à sociedade paulistana – era preconceituosa e ignorante, porque o que eu vira, segundo asseverou, era um dos momentos mais sublimes da humanidade.
Alguns dias depois, minha mãe levou-me a um museu, a uma exposição de arte renascentista.  As cenas de amamentação eram comuns. Mamãe, então, explicou-me que entre aqueles que não aceitavam ver amamentação nas ruas certamente havia quem tivesse um quadro daqueles pendurado na parede de casa…
Anos mais tarde, já sabia que algumas pessoas se incomodavam com a amamentação em público. Então, já vira muitos seios. Inclusive amamentando. E sempre, sempre fiquei maravilhado exatamente como aquele menino de nove ou dez anos. Sempre que vejo a cena, lembro-me daquela tarde com a minha mãe no museu.
De uns tempos para cá – e não só no Brasil –, esse debate ignorante sobre ser direito ou não de uma mulher amamentar em público começou a proliferar. Aqui no Brasil, para variar, a Folha de São Paulo deu a partida nessa burrice através de um colunista que comparou a amamentação à masturbação.
Agora, um membro da trupe do programa CQC que se notabilizou pelas frases doentias que profere ao tentar ser engraçado – e que também acha engraçado quando mulheres são estupradas – atacou até o ato sublime de amamentar, imortalizado pelos maiores artistas que a humanidade conheceu.
Quero crer que não aconteça isso no resto do Brasil. Seja como for, esse tipo de atitude deixa ver como ignorância e preconceito andam de mãos dadas. Aquele que em vez de se enternecer fica chocado ao ver ato sublime de amamentar não é somente preconceituoso, também é ignorante. Se não for doente…
—-
Folha de São Paulo
16 de maio de 2011
João Pereira Coutinho
Mamonas Celestinas
Um dos fenômenos mais interessantes da vida moderna encontra-se na quantidade de mães que eu vejo dando de mamar em público. Às vezes, sinto até inveja: dos bebês e das próprias mães, pela forma descontraída como se entregam ao ato, seja no meio de uma rua, de um shopping, de um café.
O caso mais espantoso deu-se uns anos atrás, quando encontrei uma mãe dando de mamar numa cabina telefónica: esperei que o almoço terminasse e depois, quando o bebê finalmente arrotou, entrei e fiz a minha chamada. Tranquilo.
É por isso que gostaria de aplaudir as organizadoras do “mamaço”, uma campanha destinada a reclamar esse direito. O “mamaço” foi idealizado depois de uma mãe ter sido impedida de amamentar o seu bebê numa galeria de exposições do Itáu Cultural, em São Paulo.
“Excesso de zelo”, disse o diretor do centro cultural. Disse muitíssimo bem: se eu posso comer pipocas quando vou ao cinema, é justo que um bebê tenha direito ao seu lanche quando é arrastado para uma exposição.
Aliás, a única coisa a lamentar é as organizadoras do “mamaço” não irem um pouco mais longe, exigindo a aceitação geral dos nossos gestos mais naturais e íntimos, que só mentes profundamente reacionárias podem considerar impróprias para consumo geral.
A masturbação é um caso: séculos de preconceitos religiosos e culturais inculcaram a ideia tenebrosa de que a masturbação é um erro, um crime, um pecado.
Nada mais longe da verdade: a masturbação é fundamental como descoberta do corpo, sobretudo durante a adolescência; e seria por isso aconselhável que os nossos adolescentes pudessem efetuar essas descobertas em público, derrubando os pesados muros do preconceito com movimentos íntimos, frenéticos, extasiados.
Mas a revolução não ficaria por aqui. Quem disse que as relações íntimas entre dois seres humanos devem ser confinadas às quatro paredes dessa masmorra burguesa, que dá pelo nome de “casa”?
Pessoalmente, acho escandaloso que as ruas das nossas cidades não ofereçam camas portáteis, capazes de socorrer o calor dos amantes quando outro tipo de fome subitamente os ataca.
E, por falar em ataques, haverá algo mais triste, mais melancólico, mais desolado, do que a insuportável solidão do banheiro?
Uma civilização digna do novo século seria a primeira a construir vasos sanitários ao longo da calçada. Não há nenhum motivo para manter a nossa privacidade longe da praça pública quando é possível executar as necessidades mais naturais em plena interação com os restantes pedestres.
As mães do “mamaço” deram o primeiro passo. Rimou. Seria bom que todo mundo tivesse a coragem para dar o segundo. (Não resisti.)
Por mim falo: amanhã de manhã, abandonarei a clausura do meu chuveiro. E prometo levar tudo –sabonete, shampoo e patinho de borracha– para tomar um banho demorado na principal fonte da cidade.



"… e quando chega o carnaval a Rede Globo coloca dentro dos lares a “Globeleza” pelada, rebolando.Mas aí não tem nada de perversão. É lindo."  Gerson Carneiro


"Ironia pedante de uma pretensa superioridade (quase ariana) civilizacional. Antes (ou depois) de tudo, o tal “ironicuzinho” parece que não limpa a bunda com folha de papel: transforma o resto de suas fezes em matéria “jornalística” da Folha (a da “ditabranda”). Falo nesse tom (reconheço, pesado), para comentar no mesmo nível do autor da reportagem: com ironia e traços fisiológicos. Enfim, trata-se de uma grande bosta: daquelas que nos orgulhamos ao olhar para a privada, antes de dar a descarga!" Reflexivo, blognalta do cidadania.com 

No http://www.blogcidadania.com.br/2011/06/o-ato-sublime-de-amamentar-2/

Em tempo: Sou mãe de uma única filha de 17 anos, a quem precisei amamentar em locais públicos por nos encontrarmos longe do aconchego do nosso lar. Sabe como é que é: com necessidade de filho/filha mãe nenhuma brinca. 


Em tempo2: É muito sadismo querer comparar o ato de amamentar com masturbação! Do PIG nada mais me surpreende!
  

Nenhum comentário: