quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Homofobia e racismo na política


Taras e perversidades do machismo


Homofobia e racismo são as doenças sociais mais discutidas e combatidas hoje em dia devido ao seu caráter mais escandaloso e aberto. Diante disso, a revoltante opressão moral que o machismo é capaz de produzir acaba relegada a segundo plano. Todavia, a mais breve análise desse tipo de perversidade social revela quanto ainda estamos distantes de um mundo em que a maior parte de sua população, representada pelo sexo feminino, seja respeitada.
A mulher, tanto quanto os negros, ganha salários inexplicavelmente menores, pois, na maioria dos casos, revela-se profissional até mais confiável em determinadas tarefas; como os homossexuais, é vitima de agressão verbal e física injusta e covarde motivada inclusive por interferência alheia em sua forma de ser. Quem não se lembra de Geyse Arruda, estudante da universidade Uniban que foi praticamente linchada por seus colegas ao usar um vestido curto?
Na política, porém, é que o machismo se expõe de uma forma tão inaceitável que chega às raias da loucura. E exemplos do por que não faltam. Não é preciso pensar muito ou recuar muito no tempo para colher tais exemplos. Estão aí todos os dias.
A mulher que hoje governa o Brasil sofreu uma campanha difamatória no processo eleitoral em que se elegeu presidente da República que homem algum teria sofrido. Nem Lula, contra quem já assacaram todo tipo de acusação, sofreu o tipo de ataque sofrido por Dilma Rousseff no ano passado. Em relação à mulher, acusações de cunho sexual constituem legítima tara, um tipo de perversão inexplicável e afiada como uma navalha.
Se for jovem e bonita, então, a mulher acaba virando alvo até mais fácil dos ataques sexistas. Chega a ser inacreditável a natureza da agressão que sofreu a hoje ministra-chefe da Casa Civil e senadora pelo PT do Paraná, Gleisi Hoffmann, quando substituiu Antonio Palocci no cargo. Apesar da carreira política brilhante e meteórica, explicável por fluência verbal digna de uma inteligência incomum, foi tratada como “bibelô”, “boneca” e outras imbecilidades.
Mas o que motiva este texto mesmo é exibição recentíssima de machismo na política que revolta porque mostra como uma mulher pode ser atacada por uma subjetividade quadrúpede de indivíduos vitimados pelo grau mais intenso dessa enfermidade social. Como algum ser humano pode se defender de ataque como o praticado pelo jornalista da Veja Ricardo Setti em seu blog, na postagem abaixo reproduzida?
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Do Blog de Ricardo Setti no portal da Veja
01/08/2011 às 19:58 \ Vasto Mundo
Cristina Kirchner e seu luto de luxo, levemente eleitoreiro
A recente visita a Brasília da presidente da Argentina, Cristina Kirchner, mostrou o quanto de luxo tem o luto que ela invariavelmente traja desde que lhe morreu o marido, o ex-presidente Néstor Kirchner, em outubro do ano passado. Um luto pela partida de um companheiro de 35 anos de vida em comum, mas também um luto algo eleitoreiro – a presidente apresenta essa imagem compungida como uma das formas de comover o eleitorado argentino, já que concorre em outubro próximo à reeleição.
O fato é que a presidente apareceu, na capital, ostentando um vestido preto com saia levemente rodada, ligeiramente mais rodada do que o recomendável, cinto largo de couro, seu tradicional cabelão, mais adequado para uma mulher com bem menos que seus 58 anos de idade, sapatos com tacones, os saltos talvez 2 ou 3 centímetros mais altos do que deveria, brincos vistosos, pulseiras nos dois pulsos, anéis de pedras preciosas, um colar de pérolas gigantes e a tradicional maquiagem pesada, noturna.
Um luto de luxo, e de grife.
Um espanto.
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Não se passou nem um ano da morte do “companheiro de 35 anos de vida em comum” de Cristina Kirchner – Néstor, seu marido, faleceu em outubro do ano passado. Como Setti se mostra adepto de convenções sociais até sobre o estilo de roupa que uma mulher deve usar – quantas vezes você viu alguém considerar o traje de um presidente diferente do “recomendável”? – deveria levar em conta a convenção sobre o luto.
O luto é um conjunto de reações à morte de um familiar ou de uma figura pública querida e tem diferentes formas de expressão em culturas distintas. O uso de determinadas cores, por exemplo, pode indicar que um indivíduo ou grupo está em luto. Na maior parte da cultura ocidental, quando familiar de uma pessoa morre é comum ela usar roupas pretas para mostrar seus sentimentos de perda e respeito pela pessoa.
O comentário do jornalista da Veja ainda supõe que a presidente argentina não sente dor pela perda do companheiro. Sua alegação sobre os sentimentos mais íntimos daquela mulher ainda enxerga na aparência dela até o que seria mais “adequado” a “uma mulher de 58 anos”. Veja bem, leitor: o corte de cabelo (!). A insinuação é a de que simulação de dor pela separação esconde desejo de parecer mais jovem. Talvez queira conseguir outro homem…
Que homem recebe esse tipo de crítica? A aparência de Lula ou seu comportamento masculino estiveram entre os poucos aspectos de si que não foram atacados durante a sua tonitruante trajetória política, recheada pelos ataques mais baixos concebíveis. Mulher na política arca com todos esses ataques e mais aqueles que só elas sofrem. Fica fácil entender, portanto, por que há tão poucas mulheres na política.

No http://www.blogcidadania.com.br/2011/08/taras-e-perversidades-do-machismo/

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