segunda-feira, 5 de novembro de 2012

95% das universidades federais vão utilizar em alguma medida as notas do ENEM


Enem: um exemplo terrível para SP


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Subtrair espaços à exclusão equivale, no Brasil, a estreitar o horizonte político do conservadorismo. E vice versa. 

A atordoante derrota de Serra em SP credencia a maior cidade do país, uma das três maiores manchas urbanas do planeta, a se tornar uma gigantesca referencia políticas sociais emancipadoras, travadas até agora pela blindagem tucana. 

O golpe é superlativo; mais superlativas serão as consequências se o PT agir com desassombro. Os derrotados sabem que uma seta do tempo foi disparada no dia 28 de outubro de 2012; ela tem potencial para traçar um novo divisor de ciclos na política brasileira.

Desdenhar do feito de Lula é uma forma de acusar o golpe. Outra é tentar implodir seu autor e o seu entorno.'Veja', os mervais, robertos freires e que tais estão soltos na praça sem focinheira. Estão fazendo as duas coisas ao mesmo tempo. E com o mesmo objetivo: reverter a seta do tempo nesse lusco-fusco histórico. 

O êxito do Enem nesse momento, uma semana depois da derrota maiúscula do PSDB em sua casa, não poderia acontecer em hora mais ingrata. 

O sucesso do Exame Nacional do Ensino Medio representa um giro adicional no torniquete de dupla volta que desde 2002 subtrai oxigênio social e político aos interesses conservadores. 

Compreensível o clima pesado excretado pelo dispositivo midiático.

Mais uma vez ele se coloca na linha de frente da reação quase solitária diante de uma direita agressivamente gananciosa, mas incompetente para gerar agendas e lideranças aglutinadoras. Serra era o seu delfim até ontem.

O Enem condensa um desmentido contundente das premissas que essa engrenagem tenta negar.

Em primeiro lugar, atesta que existe sim, política para pobre e política para rico neste país.

Ademais de ilustrar a disjuntiva colocada em dúvida por Serra na sua campanha, exemplifica uma forma calibrar políticas públicas para mudar a relação de forças no país. 

A má vontade conservadora com o exame do ensino médio poderia surpreender. O Enem foi criado no governo FHC, em 1998, para medir a qualidade do ensino. 

Mas foi com Lula, em 2009, que adquiriu a dimensão de uma gigantesca alavanca social, ao se tornar referência e mesmo alternativa ao vestibular de ingresso ao ensino superior.

Este ano, 95% das universidades federais vão utilizar em alguma medida as notas do exame para selecionar os alunos que ocuparão as vagas de 2013.

Além disso, a nota no Enem é o passaporte para ingresso no ProUni, bem como para o Fies, o Fundo de Financiamento Estudantil, ademais de representar o passaporte de acesso à política de Cotas, que , em quatro anos, reservará 50% das vagas nas instituições federais a egressos das escolas públicas, com recorte asociado, por renda e por raça. 

Em 1997, no governo tucano, apenas 4% dos estudantes matriculados nas universidades brasileiras eram constituídos de jovens pretos e pardos. Hoje essa fatia saltou para 20%. E deve aumentar depressa.

Dos cerca de 6 milhões de inscritos no Enem este ano, 2,42 milhões se declaram brancos; 2,4 milhões são pardos; 694 mil, pretos e 35 mil, indígenas. 

A educação superior no Brasil ainda é um dos sistemas de ensino mais excludentes do mundo.Estão na universidade apenas 13% dos jovens na faixa entre 18% e 24 anos.

Na América Latina, a média é superior a 30%;na Europa, EUA e Ásia é da ordem de 70%

Nos anos 90, a justificativa tucana para a exclusão era de que a prioridade deveria estar focada na educação básica, não em universidades. Como se fosse possível ter bons professores nos ciclos básicos sem ter um ensino superior de dimensões e qualidade compatíveis que para formá-los. 

Sancionada a universidade para poucos, o funil do vestibular fazia todo o sentido. Era o arremate de uma arquitetura feita para excluir e não para incorporar.

O Enem reformulado no governo Lula tornou-se a peça mais incomoda de subversão dessa lógica, que reservava toda a universidade à cota exclusiva da elite.

É por essas e outras que o êxito do Enem neste fim de semana não poderia vir em pior hora para as forças e interesses abalados pela revés eleitoral em SP. 
Postado por Saul Leblon 

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