Dilma enfrenta o surrealismo crítico
24 de janeiro de 2012

Basicamente, Dilma manteve a
opção que herdou de Lula, de manter o país no ritmo de crescimento
possível. Lula não para de elogiar seu governo e isso também pesa. Em
seu devido tempo, Lula não tinha outro Lula com igual popularidade para
apoiá-lo, certo?
Jânio de Freitas faz uma observação lúcida:
A aprovação de Dilma Rousseff é a
negação do marquetismo como fator básico e decisivo para o êxito na
opinião pública. A conduta de Dilma Rousseff ficou aquém, em tudo, do
mínimo recomendável pelo marketing político. Nada de artifícios para
criar eventos e situações que levem a demoradas e comentadas aparições
nos telejornais, com bis nas primeiras páginas do dia seguinte.”
Mas há reações estranhas. Leia
uma crítica em tom de lamento: “a presidente não anunciou medidas de
impacto, não patrocinou reformas, não apresentou um plano de governo.”
É engraçado ler, em tom próximo
ao desânimo, o que deveria ter sido uma observação em tom elogioso:
”Medidas de estímulo à economia evitaram reflexos mais graves no consumo
e na taxa de desemprego.” Lamenta-se ainda que, depois da posse, Dilma
“precisou apenas corrigir rumos. Beneficiou-se do crescimento econômico
acumulado nos anos anteriores e da ligação estreita com o padrinho
eleitoral.”
Por fim, uma observação final: a boa avaliação era “previsível”. Como é?
Não sou advogado de Dilma e
tenho críticas ao primeiro ano de governo. A principal é que o Planalto
perdeu uma grande oportunidade para encontrar uma solução definitiva
para o financiamento da saúde pública, o que teria sido possível com a
maioria que possui no Congresso e aquele sopro de tolerância que
acompanha todo mandato O km.
Considero que, como regra geral,
o espírito crítico e a independência são recursos indispensáveis para
toda avaliação política séria.
Mas
eu acho que os analistas deveriam ter aprendido uma boa lição dos
cursos básicos de Ciência Política — a disposição para não perder
contato com a realidade, única forma de evitar que ela seja confundida
com nossos desejos. A critica exagerada, muitas vezes, transforma-se em
pedantismo.
O espírito crítico inclui a
capacidade de autocrítica, também. E independência deve valer para todo
tipo de pressão que pode desviar um trabalho honesto de avaliação e
julgamento.
Se uma presidente consegue ter a
maior aprovação da história “sem medidas de impacto,” sem patrocinar
“reformas,” sem apresentar “um plano de governo” é porque, talvez, quem
sabe, não houvesse necessidade tão urgente assim de “medidas de
impacto”, nem de “reformas” nem de um “plano de governo”.
Quem fala que a presidente
apenas “corrigiu rumos” e assim mesmo chegou aos 59% de aprovação parece
admitir, sem perceber, que talvez não houvesse necessidade de inventar
muita coisa no primeiro ano de governo.
Minha impressão é que Dilma fez
um governo do tamanho certo para ela, para o país e para a herança que
recebeu. Num capítulo em que muitos anunciavam uma postura desastrosa,
deu as respostas necessárias ao afastar ministros que não podiam
permanecer no governo.
A julgar pelo que se disse e se
pensou sobre Dilma, há um ano, talvez fosse o caso de constatar que,
para seus críticos, seu governo é uma decepção positiva. Concorda?
(Do blog de Paulo Moreira Leite)
No http://osamigosdapresidentedilma.blogspot.com/
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