quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Voto facultativo sim, mas o Brasil ainda não está preparado


Paulo Moreira Leite em seu blog Vamos Combinar

O mais novo mito das eleições municipais de 2012 informa que tivemos um alto número de brancos, nulos e abstenções. Até Cármen Lúcia, presidente do TSE, se disse preocupada com isso.

Como também tivemos um alto número de votos a favor dos candidatos do PT – partido que mais cresceu entre os grandes, tornou-se líder nacional de votos, além de levar o troféu maior que é São Paulo – é fácil imaginar que há muita gente associando uma coisa a outra. Assim: baixa participação popular, alta votação para o partido de Lula. Nós sabemos aonde essa turma quer chegar, certo?

Querem dizer que a população está se cansando de votar.

Ainda bem que existem repórteres interessados em descobrir a verdade por baixo das aparências e do senso comum. Roldão Arruda revela, em O Estado de S.Paulo de terça-feira, dia 30, que o problema não está na vontade de votar – mas no registro eleitoral. Em cidades em que o cadastro eleitoral não é atualizado, a contabilidade das ausências produz números maiores.

Uma consulta à votação nas capitais mostra isso. Em cidades como São Paulo e São Luiz, onde o cadastro não é atualizado há mais de 20 anos, a abstenção bateu em 20% entre os paulistanos e chegou a 22% entre os moradores da capital do Maranhão. Já em Curitiba, onde o cadastro foi feito há um ano, a abstenção fica em 10%. Os cadastros velhos mantêm como eleitores aqueles cidadãos que já morreram, que se mudaram, que já não tem obrigação de votar. “Se todos os eleitores forem recadastrados, a abstenção tende a cair para 10%, soma razoável de pessoas doentes, que viajaram ou que tem mais de 70 anos e não querem mais votar”, afirma Jairo Nicolau, um dos mais respeitados estudiosos do comportamento do eleitor.

A má interpretação das abstenções animou a turma que combate o voto obrigatório e pretende instituir o voto facultativo. Há bons argumentos a favor de uma coisa ou de outra, mas é bom lembrar que a distribuição renda favorece o voto facultativo. Ou seja: nos países em que o voto é facultativo, há uma proporção maior de ricos que comparecem às urnas, por motivos fáceis de explicar. A pessoa tem mais recursos, mais tempo livre, mais facilidades de locomoção, mais facilidade para deixar o trabalho e exercer o direito de escolher o governante. Imagine o voto facultativo no interior de um estado pobre, dominado por nossos coronéis. Bastaria suspender o transporte nos bairros adversários para se ganhar uma eleição, não é mesmo?

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