segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

A classe média vai as compras

Uma certa turma bem-nascida adora maldizer a superlotação dos aeroportos brasileiros, atribuindo-a em grande medida à ascensão social dos mais pobres.

Agora transformados em classe média, antigos usuários de rodoviárias estariam enchendo de novos coloridos e sotaques os saguões de embarque e desembarque.

A pesquisa Datafolha mostra que 29% dos integrantes da classe alta compraram passagens aéreas nacionais nos 12 meses anteriores à realização da pesquisa, contra 12% da classe média alta que fizeram o mesmo. O índice cai para 6% na classe média intermediária e para 5% na classe média baixa.

Acontece que, demograficamente muito mais relevante, a classe média já leva aos saguões de embarques nacionais um total de 6,76 milhões de passageiros -quase o dobro dos 3,48 milhões de indivíduos de classe alta.....

Na primeira semana de dezembro, a empregada doméstica Maria das Dores Quintana, 48, embarcava em um voo da Gol para Fortaleza, saindo de Guarulhos. A passagem, só de ida, foi comprada em seis parcelas fixas de R$ 123. "Esta é a primeira vez que vou de avião. E se de repente eu passar mal?", angustiava-se.

Com salário mensal de R$ 1.500, registro em carteira, dois filhos (que ficaram com a irmã, doméstica como ela), Das Dores não acha que vá passar aperto para pagar as prestações do bilhete aéreo. "Graças a Deus, não está faltando nada", comemora. Em todo caso, a viagem de volta será em ônibus fretado, R$ 200 a passagem. "Quem sabe, no ano que vem, faço tudo de avião?"

É assim mesmo. A pesquisa flagrou uma nova classe média orgulhosa do fato de agora poder consumir, ao mesmo tempo que se mostra muito cuidadosa e conservadora ao lidar com o dinheiro.

Assim, se 93% da classe média alta tem celular (87% da classe média intermediária e 76% da classe média baixa), o certo é que não serve qualquer celular.

"Tem de ser pré-pago", explica o mestre de obras Antonio Ermelino, 55, que tira "de R$ 3.000 a R$ 5.000" por mês. "A gente controla melhor os gastos com o pré-pago. Não tem surpresa. Se acabam os créditos, miou. Paro de ligar. Simples assim."

Para 91% da classe média intermediária, o gasto mensal com recarga de celular não passa de R$ 50.

Também no supermercado repete-se a cautela ao gastar.

Enquanto a maior parte da classe alta vai ao supermercado um vez ou mais por semana, entre o pessoal da classe média a maioria prefere compras mais espaçadas. Nas classes média intermediária e média baixa, a maior parte opta pela compra mensal, 55% e 56%, respectivamente.

"Essa classe média valoriza o consumo inteligente, voltado para as promoções; é uma classe média com foco maior nos preços", afirma Geraldo Monteiro, diretor de Operações do Grupo Pão de Açúcar, que inclui a marca Extra, referência para essas compras mensais.

Como acontecia nos piores tempos de inflação, a família ainda pega o carro e vai junta -pai, mãe e filhos- ao supermercado, não raro portando o folheto de ofertas.

Agora, porém, segundo Monteiro, "a nova classe média começa a experimentar coisas que antes lhe eram inacessíveis, como os alimentos orgânicos, light, produtos prontos para o consumo, congelados e pré-cozidos. Mas sempre de olho no preço".

TV nova está nos planos de 34%

Comprar nos próximos meses uma televisão de plasma, LED ou LCD é o desejo de 34% dos entrevistados pelo Datafolha -na classe média alta, esse índice é de 53%, e entre os excluídos, de 21%. O notebook é o segundo aparelho eletrônico na lista de compras do brasileiro (27% pretendem adquiri-lo), seguido pela câmera fotográfica digital (19%) e DVD (14%). O tablet é mais desejado pelos mais ricos (19%) e pela classe média alta (12%).

Grupo formado por 90 milhões de pessoas está longe de ser homogêneo; indicadores de renda e educação são os que mais distanciam seus integrantes

Brasil é um país de classe média. Seis em cada dez brasileiros com 16 anos ou mais já pertencem a esse grupo, segundo o Datafolha.

Com 90 milhões de pessoas -número superior ao da população alemã-, a classe média brasileira, no entanto, está longe de ser homogênea.

A variedade de indicadores de renda, educação e posse de bens de consumo permite a divisão dessa parcela da população em três grupos distintos que separam os ricos dos excluídos.

O acesso crescente a bens de conforto -como eletroeletrônicos, computadores e automóveis- é o que mais aproxima as três esferas da classe média brasileira.

A partir da medição da posse desses itens, a população é divida em classes nomeadas por letras.

O Brasil de classes médias é aquele que está conseguindo escapar dos estratos D e E, deixando para trás os excluídos, mas ainda quase não tem presença na classe A.

Ganhos de renda -consequência de crescimento econômico mais forte e políticas de distribuição de renda- e maior acesso a crédito contribuíram para essa tendência.

"Aumentos de renda que parecem pequenos para a elite têm representado uma revolução para as classes mais pobres", afirma o economista Marcelo Neri, da FGV (Fundação Getúlio Vargas).

Se a posse de bens de consumo aproxima as três classes médias brasileiras, indicadores de renda e educação ainda os distanciam.

Rendimento e escolaridade mais elevados são, por exemplo, características que afastam os brasileiros da classe média alta dos outros dois estratos. Já as linhas que separam os integrantes das classes médias intermediária e baixa são mais tênues.

Os integrantes bem mais jovens da classe média intermediária têm melhores perspectivas econômicas por conta de avanços educacionais mais significativos nos últimos anos.

Esse grupo é o que mais se expandiu no país na última década. Com 37 milhões de pessoas (de 16 anos ou mais), só perde para os excluídos, que ainda formam a classe mais numerosa no Brasil, embora tenham encolhido.

Apesar da expansão significativa da classe média, há quem ainda não sinta fazer parte do grupo. É o caso de Rosiley Marcelino Silva, 46. Casada e mãe de dois filhos adultos, ela vive da venda de salgados e do salário do marido, ajudante de caminhão.

"Não acho que tenho vida de classe média. Mas agora dá para sobreviver", diz Rosiley, que foi classificada pelo Datafolha como classe média intermediária.

A vulnerabilidade da nova classe média é uma questão que preocupa as autoridades.

"Nós estamos tentando pensar em políticas que ajudem essas pessoas a não retornarem para a pobreza, porque esse é um risco", afirma Diana Grosner, economista da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.

Segundo ela, o governo trabalha agora em uma definição oficial de classe média e, depois, poderá dividi-la em até três grupos distintos para elaborar políticas específicas de acordo com as necessidades de cada um deles.Na Folha de São Paulo
No http://osamigosdopresidentelula.blogspot.com/2012/01/isso-e-lulanos-8-anos-de-governo-brasil.html#more

Nenhum comentário: