segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O que você tem feito pelo povo de Deus?


ESSE É LEGADO DE QUINHENTOS ANOS DA "ELITE" BRASILEIRA

TRANSIÇÃO
R$ 3,8 bilhões pelo fim da miséria
Eis a fatura que Dilma Rousseff precisará pagar anualmente para mudar a vida dos brasileiros que vivem em condições extremas de pobreza, segundo levantamento feito por especialistas do Ipea
Izabelle Torres

Ronaldo de Oliveira/CB/D.A Press
A vendedora de panos de prato Iasmin Tenório tem R$ 40 por mês para cuidar do filho e do marido com problemas de saúde: ~Às vezes falta comida. Sempre falta o resto~

O Brasil que elegeu Dilma Rousseff tem 5% da população cuja renda mensal familiar não passa de R$ 50. A esse pedaço do país é que mais interessa a promessa da sucessora de Lula de erradicar a miséria nos próximos quatro anos. O desafio já tem conta calculada. E não é tão custosa quanto indicavam as primeiras avaliações. Para atingir apenas os 9,5 milhões de brasileiros que vivem na mais absoluta miséria, devem ser gastos R$ 3,8 bilhões por ano. Na prática, a equipe calcula gastar cerca de R$ 1,66 por mês para cada brasileiro na guerra contra a extrema pobreza. A conta foi feita por especialistas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). “Essa é a base de linha de renda mais baixa. É uma abordagem que avalia apenas os aspectos mais graves da pobreza. Daí, o número de pobres ser menor do que o de outras análises e o valor previsto para tirá-los da miséria também. Seria apenas um ponto inicial de abordagem”, explica Sergei Soares, técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea.

É nesse grupo de miseráveis que se inclui a vendedora de panos de prato Iasmin Tenório. Moradora do município de Novo Gama (GO), ela não sabe como se cadastrar no programa Bolsa Família e acredita ter sido esquecida pelo poder público. Ela sustenta o marido com problemas de saúde e um filho com R$ 40 por mês. “A gente vive nesse barraquinho. Às vezes falta comida. Sempre falta o resto. Nem sei como fazer para receber a ajuda do governo”, diz.

É para gente como a vendedora Iasmin que o Brasil administrado pela nova presidente vai precisar trabalhar se quiser acabar pelo menos com os índices extremos de miséria. Brasileiros como a vendedora do Novo Gama elegeram a nova presidente e agora vivem da expectativa por dias melhores. Não por acaso. Em seu primeiro discurso depois do resultado da eleição, Dilma foi taxativa: “Não podemos descansar enquanto houver brasileiros com fome, enquanto houver famílias morando nas ruas, enquanto crianças pobres estiverem abandonadas à própria sorte”.

Ação global
Se o custo do investimento para combater a miséria levando em conta apenas os muito miseráveis é de menos de R$ 4 bilhões por ano, o preço de um investimento real no combate à pobreza supera a casa dos R$ 20 bilhões anuais, segundo o especialista da Fundação Getulio Vargas (FGV) Marcelo Neri. Para ele, a avaliação sobre a miséria não deve levar em conta apenas a falta da comida, mas também as condições básicas de existência dos brasileiros. “Avaliamos que uma família, para não ser miserável, deve ganhar pelo menos R$ 120 por mês. Para viver melhor, R$ 144. Não é um custo muito alto para o governo. É uma meta possível, se for bem administrada”, afirma. Atualmente, o governo gasta por ano cerca de R$ 13 bilhões com os beneficiários do programa Bolsa Família.

Para Neri, a grande dificuldade do Estado para acertar o passo no combate à miséria é conseguir mapear os brasileiros que precisam de mais ajuda e diferenciá-los dos que precisam de menos dinheiro. Além disso, segundo ele, as regiões brasileiras também precisam receber tratamento diferenciado dos programas sociais. “O governo federal gasta em média 21% do PIB na área social. Creio que investir R$ 20 bilhões — que é menos de 1% da riqueza do país — para erradicar a pobreza é uma conta pequena e fácil de ser cumprida”, diz o professor.

De acordo com os critérios do especialista, se forem levadas em consideração as condições básicas de vida de uma pessoa, o número de pobres no país ultrapassa 28 milhões. “É muito, mas é menos do que já existiu. Além disso, as coisas melhoraram e o custo por habitante para erradicar a pobreza é menor hoje do que em anos anteriores”, ressalta.

Segundo estudos da FGV, o combate à miséria custava R$ 23 por dia em 1993 por brasileiro. Em 1995, depois da implantação do Plano Real, o custo caiu para R$ 17. Agora, se a ideia for combater apenas a pobreza extrema, o investimento diário possível é de cerca de R$ 0,10 por brasileiro. “Além da exigência financeira mais baixa, o país agora tem o cadastro de quem são os pobres. Anos atrás, não era possível nem achá-los pelo país. Creio que, se o governo acertar o passo e gastar o dinheiro da forma correta, será possível fechar essa conta e erradicar a miséria. Nem que seja usando o parâmetro mais baixo de renda”, conclui o especialista.

Critérios variados
Os números da pobreza variam de acordo com os critérios usados por cada processo de avaliação. Conforme o IBGE, são 21 milhões de pobres. Na última sexta-feira, o Pnud divulgou estudo no qual a avaliação das condições de existência, como o acesso a saneamento básico e a saúde, mostram que a pobreza no país atinge 8,5 % dos brasileiros, ou seja, 16 milhões de pessoas. Segundo os critérios usados pela FGV, são 28 milhões.
Postado por APOSENTADO INVOCADO

Nenhum comentário: