domingo, 21 de novembro de 2010

Somos todos brasileiros, com DNA negro, indígena e europeu.

CONVERSA COM O MINISTRO

Eloi Ferreira de Araújo, da Seppir

"Não são passos na areia

É muito intenso o esforço que tem sido despedido pelo governo para mudar a realidade do negro no Brasil, mas num país com dimensões continentais, mesmo um grande esforço acaba sendo insuficiente. Será preciso um pouco mais de tempo. A demanda histórica é muito grande. Desde 2005, quando o ProUni, foi implementado, conseguimos colocar 700 mil jovens na universidade, e 50% deles são pretos e pardos. Nunca antes neste país tivemos tantos negros na universidade pública, especialmente naquelas que decidiram adotar o sistema de cotas. Mas estamos dando passos largos e consolidados. Não são passos na areia.

Resistência aos avanços

A população brasileira abraçou a política de cotas, o ProUni, a garantia do direito dos quilombolas à terra. A resistência que existe é localizada, quase tem nome e sobrenome. E o partido que resiste [o DEM] não tem nenhum deputado negro, pelo que sei. E só ele entrou na Justiça contra as políticas de acesso à universidade e de regulamentação das áreas quilombolas. O presidente Lula sancionou esse instrumento extraordinário, que é o Estatuto da Igualdade Racial. Quando converso com os que combatiam o texto aprovado, eles ficam surpresos com as conquistas nele asseguradas. ‘Rapaz, é isso?’, eles dizem. Agora só falta a regulamentação para dar concretude à inserção da população negra aos bens econômicos, culturais e sociais.

Vítima de racismo

Há algum tempo, minha mulher me pediu para ir a um mercado próximo de casa, no Rio. Coloquei a bermuda furada, o chinelão, a camisa do Vascão [risos] e fui. Entrei numa fila menor, com minhas poucas compras, e uma senhora quis entrar na minha frente com um carrinho cheio. Disse que alguém havia guardando o lugar dela. Argumentei que eu não havia visto ninguém guardando o lugar. Ela insistiu, e eu também. Como ela viu que não ia conseguir passar na minha frente, largou o carrinho e foi chamar o segurança. O homem chegou e a discussão se repetiu. Ela perguntou para o segurança: ‘Posso entrar?’. Eu reagi: ‘Não pode, nem que tivesse alguém guardando, isso não é certo’. Ela olhou bem pra mim e disse: “Sabe por que eu vou entrar na sua frente? Olha a cor da minha pele e olha a cor da sua”. Nisso, a caixa do supermercado, uma negra de cabelo de trancinha, começou a passar minhas compras. O homem que estava atrás de mim colou nas minhas costas e a senhora ficou falando sozinha."

Seppir
Criada em 2003, a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial é o instrumento mais emblemático do governo federal para a promoção dos direitos da população negra. Ligada ao Palácio do Planalto, é chefiada por um ministro.

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