Ombudsman rompe cerco da Folha sobre a mídia
Foto: Marisa Cauduro/Folhapress
Na coluna “Tema proibido”, Suzana Singer diz que relação entre Veja e Carlos Cachoeira pode até ser legal, mas talvez não seja eticamente aceitável; jornalista cobra que jornal divulgue todos os diálogos que envolvam meios de comunicação
247 – O bloqueio dos grandes veículos de
comunicação à discussão das relações entre a quadrilha de Carlos
Cachoeira e a mídia foi quebrado pela Folha de S. Paulo, na edição que
circula neste domingo (em São Paulo, o jornal é distribuído a partir do
fim da tarde dos sábados). A responsável por isso foi a jornalista
Suzana Singer, ombudsman do jornal, que acaba de ter renovado o seu
mandato para criticar livremente a Folha e demais meios de comunicação
nas páginas do jornal de maior circulação do País.
Em seu texto, chamado “Tema proibido”, Suzana fala da rapidez dos
jornais, portais e televisões em levantar qualquer fato concernente a
governadores, senadores, deputados policiais e empresários, mas critica o
“silêncio reverente no que tange à própria mídia”.
Para exemplificar, Suzana publicou um diálogo entre Carlos Cachoeira e
um diretor da Delta, Cláudio Abreu, que consta do inquérito e fala
sobre uma reportagem na Folha de S. Paulo, mas que vinha sendo ignorado
pela própria Folha. Na conversa, Abreu fala sobre uma possível
influência no jornal. “Quem é o cara da Folha que manteve contato?
Porque nós ´tamo´ bem com a Folha. ´Tamo´trabalhando lá...”. Em sua
defesa, o jornal afirmou que, depois desse diálogo, o jornal publicou
duas reportagens criticas à Delta, indicando que a influência, se
existia, não foi exercida.
O caso Veja
No tocante à revista Veja, Suzana Singer faz uma crítica sutil, mas
contundente. E diz o óbvio: discutir o tema não significa censurar ou
coibir a liberdade de expressão. “Permitir-se ser questionado, jogar luz
sobre a delicada relação fonte-jornalista, faz parte do jogo
democrático”.
Suzana afirma que, até agora, não foram comprovadas ilegalidades no
comportamento da revista. No entanto, diz ela, isso não significa que a
conduta da maior revista semanal do País seja “eticamente aceitável”.
Leia um trecho do seu artigo deste domingo:
“Do que veio a público até o momento, não há nada de ilegal no
relacionamento Veja-Cachoeira. O paralelo com o caso Murdoch, que a
blogosfera de esquerda tenta emplacar, soa forçado, porque, no caso
inglês, há provas de crimes, como escutas ilegais e a corrupção de
policiais e autoridades.
Não ser ilegal é diferente, porém, de ser eticamente aceitável. Foram
oferecidas vantagens à fonte? O jornalista sabia como as informações
eram obtidas? Tinha conhecimento da relação próxima de Cachoeira com o
senador Demóstenes? Há muitas perguntas que só podem ser respondidas se
todas as cartas estiverem na mesa.
É preciso divulgar os diálogos relevantes que citem a imprensa (...).
Grampos mostram que a mídia fazia parte do xadrez de Cachoeira. Que
essa parte do escândalo seja tratada sem indulgência, com a mesma dureza
com que os políticos têm sido cobrados.”
Em países livres, democráticos e de imprensa livre, não devem existir tabus ou temas proibidos. Suzana Singer está de parabéns.
No http://brasil247.com/pt/247/midiatech/58012/Ombudsman-rompe-cerco-da-Folha-sobre-a-m%C3%ADdia.htm
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