domingo, 6 de maio de 2012

Nós mulheres ainda não experimentamos "viver em liberdade e igualdade, sem discriminações. E tampouco chegará lá se não nos mobilizarmos, não atuarmos, não transgredirmos. Mulheres, sejam feministas!"

Mulheres, sejam feministas!


A revolução das mulheres não tem mais volta. Ela penetrou tão profundamente na sociedade que não é mais possível nos dizer para, por exemplo, ficarmos trancadas casa. Ou não nos sentarmos sozinhas em uma mesa de bar. Ou nos casarmos virgens. Ou nos calarmos diante do estupro e de espancamentos. Ou abdicarmos de nossa independência financeira.
Não, não é possível retroceder.
Essa foi a revolução do século XX, já anunciou o historiador Eric Hobsbawm. E totalmente rizomática, para usar o termo cunhado por Gilles Deleuze e Félix Guattari. Como a grama ou a erva daninha, ela se espalhou e foi crescendo, horizontalmente, sem direção definida. Houve sim lideranças, precursoras, mas essa revolução foi muito além.
É uma espécie de vírus que contagia e se multiplica. Não se sabe ao certo quem deu o primeiro espirro, mas a gripe passou. E contaminou o mundo inteiro.
Uma cortou a saia, outra queimou o sutiã, 343 assinaram um manifesto pró-aborto. Trabalharam nas fábricas insalubres e superlotadas. Fizeram greves tão intensas que explodiram a Rússia em 8 de março de 1917, abrindo espaço para os bolcheviques. Morreram queimadas. Tornaram-se médicas, advogadas, jornalistas, presidentes, dirigentes de empresas, professoras universitárias. Pilotaram avião, caminhão e fogão. Atravessaram o Canal da Mancha a nado, foram à Lua, dirigiram um carro na Arábia Saudita. Se libertaram sexualmente, casaram-se com outras mulheres de papel passado. Escreveram, publicaram, filmaram. Viraram líderes espirituais de aldeia na Amazônia. Fizeram tribos africanas abandonarem a horrenda prática da mutilação genital. Reescreveram a história dizendo que sim, éramos protagonistas, mesmo que não tenhamos assinado tratados de guerra e paz.
Não, não é possível retroceder.
Mas onde é preciso avançar?
A cada 2 minutos, 5 mulheres são espancadas no Brasil. Os estupros e os abusos são crimes que, em geral, ocorrem dentro das próprias casas. Ganhamos salários menores que os dos homens para ocuparmos os mesmos cargos – agora isso pode ser motivo de multa dentro da mesma empresa, menos mal. Ouvimos piadas machistas o tempo todo. Somos obrigadas a aturar cantadas nas ruas com medo de uma violência ainda maior. Não exercemos plenamente nossos direitos reprodutivos. Sofremos cotidianamente com a noção de que somos propriedade do homem e, portanto, podemos ser usadas a seu bel-prazer. Muitas de nós nunca tiveram um orgasmo. Ainda somos vendidas junto com cerveja e tudo mais que o mercado quiser. Temos receio de apanhar na avenida Paulista porque andamos de mãos dadas com outra mulher. Somos consideradas galinhas ou putas quando exploramos nossa sexualidade.
Por que continuamos em uma realidade tão inóspita? A resposta é óbvia e simples: porque a sociedade segue sendo machista, apesar de todos os nossos avanços. Uma cultura tão antiga, que perdura há milhares de anos, não muda de uma hora para a outra ou de um século para o outro.
É  justamente por isso que, assim como o machismo, o feminismo continua vivo e atuante! O termo pode parecer surrado e ultrapassado, mas só para quem comprou o discurso de que já chegamos em nosso limite. E não, não chegamos ao topo. É preciso sermos feministas, todos os dias e todas as horas.
A humanidade (e por que não outro nome? E se chamássemos humanidade, feminidade, transgeneridade, pluralidade?) ainda não experimentou viver em liberdade e igualdade, sem discriminações. E tampouco chegará lá se não nos mobilizarmos, não atuarmos, não transgredirmos. Mulheres, sejam feministas!


Escrito por Maíra Kubík Mano

No http://viva.mulher.blog.uol.com.br/

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