A
revolução das mulheres não tem mais volta. Ela penetrou tão
profundamente na sociedade que não é mais possível nos dizer para, por
exemplo, ficarmos trancadas casa. Ou não nos sentarmos sozinhas em uma
mesa de bar. Ou nos casarmos virgens. Ou nos calarmos diante do estupro e
de espancamentos. Ou abdicarmos de nossa independência financeira.
Não, não é possível retroceder.
Essa
foi a revolução do século XX, já anunciou o historiador Eric Hobsbawm. E
totalmente rizomática, para usar o termo cunhado por Gilles Deleuze e
Félix Guattari. Como a grama ou a erva daninha, ela se espalhou e foi
crescendo, horizontalmente, sem direção definida. Houve sim lideranças,
precursoras, mas essa revolução foi muito além.
É
uma espécie de vírus que contagia e se multiplica. Não se sabe ao certo
quem deu o primeiro espirro, mas a gripe passou. E contaminou o mundo
inteiro.
Uma
cortou a saia, outra queimou o sutiã, 343 assinaram um manifesto
pró-aborto. Trabalharam nas fábricas insalubres e superlotadas. Fizeram
greves tão intensas que explodiram a Rússia em 8 de março de 1917,
abrindo espaço para os bolcheviques. Morreram queimadas. Tornaram-se
médicas, advogadas, jornalistas, presidentes, dirigentes de empresas,
professoras universitárias. Pilotaram avião, caminhão e fogão.
Atravessaram o Canal da Mancha a nado, foram à Lua, dirigiram um carro
na Arábia Saudita. Se libertaram sexualmente, casaram-se com outras
mulheres de papel passado. Escreveram, publicaram, filmaram. Viraram
líderes espirituais de aldeia na Amazônia. Fizeram tribos africanas
abandonarem a horrenda prática da mutilação genital. Reescreveram a
história dizendo que sim, éramos protagonistas, mesmo que não tenhamos
assinado tratados de guerra e paz.
Não, não é possível retroceder.
Mas onde é preciso avançar?
A
cada 2 minutos, 5 mulheres são espancadas no Brasil. Os estupros e os
abusos são crimes que, em geral, ocorrem dentro das próprias casas.
Ganhamos salários menores que os dos homens para ocuparmos os mesmos
cargos – agora isso pode ser motivo de multa dentro da mesma empresa,
menos mal. Ouvimos piadas machistas o tempo todo. Somos obrigadas a
aturar cantadas nas ruas com medo de uma violência ainda maior. Não
exercemos plenamente nossos direitos reprodutivos. Sofremos
cotidianamente com a noção de que somos propriedade do homem e,
portanto, podemos ser usadas a seu bel-prazer. Muitas de nós nunca
tiveram um orgasmo. Ainda somos vendidas junto com cerveja e tudo mais
que o mercado quiser. Temos receio de apanhar na avenida Paulista porque
andamos de mãos dadas com outra mulher. Somos consideradas galinhas ou
putas quando exploramos nossa sexualidade.
Por
que continuamos em uma realidade tão inóspita? A resposta é óbvia e
simples: porque a sociedade segue sendo machista, apesar de todos os
nossos avanços. Uma cultura tão antiga, que perdura há milhares de anos,
não muda de uma hora para a outra ou de um século para o outro.
É justamente
por isso que, assim como o machismo, o feminismo continua vivo e
atuante! O termo pode parecer surrado e ultrapassado, mas só para quem
comprou o discurso de que já chegamos em nosso limite. E não, não
chegamos ao topo. É preciso sermos feministas, todos os dias e todas as
horas.
A
humanidade (e por que não outro nome? E se chamássemos humanidade,
feminidade, transgeneridade, pluralidade?) ainda não experimentou viver
em liberdade e igualdade, sem discriminações. E tampouco chegará lá se
não nos mobilizarmos, não atuarmos, não transgredirmos. Mulheres, sejam
feministas!
Escrito por Maíra Kubík Mano
No http://viva.mulher.blog.uol.com.br/
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