Internacional
José Antonio Lima
União homossexual
A coragem de Obama está em falta no Brasil
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, deu nesta quarta-feira
9 uma rara demonstração de coragem que entrará para a história. A seis
meses da eleição presidencial, em meio a um debate acirrado, Obama
decidiu se posicionar sobre um dos temas que mais divide a sociedade
americana: afirmou ser a favor do casamento entre homossexuais. Foi um
ato de coragem, digno de um governante preocupado em igualar os direitos
de todos os cidadãos. Foi um ato que os brasileiros, lamentavelmente,
ainda esperam para ver.
Obama fez a declaração em uma entrevista concedida à rede de TV americana ABC News.
Segundo Obama, o primeiro presidente dos EUA a se declarar favorável ao
casamento gay, sua nova posição a respeito do tema é uma “evolução”.
Até aqui, Obama se limitava a apoiar a “união civil” de homossexuais.
Para ele, isto era “suficiente”, pois garantia direitos básicos para os
parceiros homossexuais e não atingia sensibilidades religiosas e
tradicionais de determinados grupos da sociedade. A “evolução” veio,
segundo Obama, de conversas com amigos e familiares e ao perceber que
excelentes funcionários do governo e militares, gays, ainda se sentiam
constrangidos por não poder se casar.
No Brasil, a “evolução” ainda não ocorreu. No levante obscurantista
das eleições presidenciais de 2010, diversos grupos sociais caíram
vítimas do conservadorismo de religiosos de todo o tipo que ameaçavam
declarar guerras santas aos políticos caso fossem contrariados. Os gays
foram as maiores vítimas. A presidenta Dilma Rousseff (PT) e o
ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB) passaram semanas negando
ser a favor do casamento gay. Ambos se limitavam a dizer, como Obama
fazia antes, ser a favor da “união civil”. Marina Silva (PV), a
evangélica que ficou em terceiro lugar, foi vista como virtuosa por
manter firme sua posição inicial, também a favor da “união civil”, mas
contra o “casamento gay”.
A fala de Obama é simbólica porque se deu em um clima ainda mais
tenso que o experimentado pelos candidatos brasileiros em 2010. Como no
Brasil, religiosos de todo o tipo se mobilizam nos EUA para impedir que
homossexuais tenham o mesmo direito de se casar que eles, religiosos,
têm. Nesta quarta-feira 9, o Estado da Carolina do Norte aprovou, em
plebiscito, a proibição do casamento gay ao estabelecer que um casamento
só pode ser concebido como tal se for firmado entre um homem e uma
mulher. A Carolina do Norte foi o 31º estado norte-americano a aprovar
uma legislação deste tipo. Por lá, a nova posição de Obama deve
complicar sua votação. Conservador, o estado é estratégico no sistema de
colégio eleitoral em vigor nos EUA, e pode pender para Mitt Romney, o
candidato republicano.
O ato de Obama, ainda que corajoso, precisa ser entendido como um ato
político tomado sob pressão. E que rendeu frutos, mais exatamente US$ 15 milhões em doações
em evento organizado pelo ator George Clooney. A pressão veio de dois
fatos. Nesta semana, o vice-presidente dos EUA, Joe Biden, se declarou
“confortável” com os casamentos homossexuais. E, pela primeira vez na
história, uma pesquisa de opinião pública mostrou que mais da metade dos
norte-americanos (53%) acham que o casamento entre pessoas do mesmo
sexo deve ser considerado válido perante a lei. Da mesma forma, a
posição dos políticos brasileiros é também um ato político. Em julho de
2011, dois meses depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) legalizar a
união civil de homossexuais, 55% dos brasileiros se diziam contrários à
decisão. Com base nisso, pode-se entender que os políticos brasileiros
estavam em 2010 apenas refletindo a opinião pública. Refletir ou ecoar o
que pensa a população, entretanto, não é a missão de um líder. Liderar é
ter coragem para guiar um povo para o caminho certo e fazer cada um
entender que lutar para impedir direitos iguais para todos é se colocar
do lado errado, e cruel, da história.
No http://www.cartacapital.com.br/sociedade/a-coragem-de-obama-esta-em-falta-no-brasil/
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