Quem apostar na crise vai perder. De novo
A frase que encima este texto foi proferida recentemente pela
presidente Dilma Rousseff. Trata-se de remake de um filme que todos já
viram. Entre setembro de 2008 e o primeiro semestre de 2009, as apostas
de que o país sucumbiria à crise norte-americana que se espalhou pelo
mundo se acotovelaram nos meios de comunicação.
Quem tem memória saudável se lembra das previsões catastróficas e das
receitas ortodoxas pregadas pela oposição e por sua mídia para o
governo Lula enfrentar a crise. Corte de gastos do governo era a
cantilena mais popular entre os conservadores. E, para justificá-la, as
mesmas alusões à produção industrial em queda que hoje é dita como
sinônimo de “esgotamento do modelo econômico amparado no consumo
popular”.
Naquele período entre 2008 e 2009, os bancos, o empresariado e até
mesmo a população se assustaram com as previsões da imprensa. Mais por
conservadorismo do que por razões concretas, os bancos congelaram a
oferta de crédito. Aí entra o governo Lula e compra bancos de varejo e
coloca os bancos públicos (Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e
BNDES) para suprir o crédito que escasseava.
A reação da imprensa e da oposição, já de olho na campanha eleitoral
de 2010, não tardou. Surgiram previsões de que os bancos públicos iriam
quebrar por estarem emprestando em um momento em que as sábias
instituições privadas se recolhiam – as mesmas que resistiram, agora, à
política de redução de juros dos bancos públicos, mas acabaram
adotando-a.
É desnecessário lembrar o que foi feito das previsões catastrofistas
da mídia e da oposição. Mesmo o mais desmemoriado sabe que foram
totalmente desmoralizadas e que culminaram com ampla vitória do governo
Lula, que elegeu o sucessor e uma bancada muito maior no Legislativo.
As análises da mídia sobre esgotamento do modelo de consumo popular
são ridículas. Ainda mal arranhamos o nível de consumo que seria
aceitável para um país com população como a do Brasil. É provável que
ainda tenhamos que incluir gente no mercado de consumo por algumas
décadas até atingirmos um nível razoável.
As análises que se vê na imprensa são, mais uma vez, oportunistas e
eleitoreiras. Como em 2008/2009, aproveitam-se de efeitos momentâneos
que o recrudescimento da crise internacional gerou – e que hoje são
muito inferiores aos de ontem – para alardear o desastre.
A mídia fala da queda tímida na produção industrial e na queda dos
investimentos como se fosse o fim do mundo apesar de serem fenômenos
amplamente esperados em um momento em que a Europa derrete e os EUA
seguem patinando.
A tendência, porém, é muito diversa da que diz a mídia. As medidas do
governo de redução de juros, de aumento da oferta de crédito e de
aceleração dos investimentos públicos (aos quais a direita
demo-tucano-midiática devota a maior rejeição entre todas) surtirão
efeito em alguns meses.
Aliás, um dos sinônimos mais eloqüentes do novo estágio da economia
brasileira é o de que, à diferença de 2008/2009, emprego e renda não
foram afetados por um agravamento da situação econômica internacional
hoje muito mais intenso do que naquela época, quando, entre o final de
um ano e o começo de outro, quase 800 mil empregos se perderam.
O segundo semestre, assim, será marcado pela retomada da atividade
econômica. E o que é melhor: sem que a população tenha sentido
minimamente a crise. A produção industrial deve se recuperar, a oferta
de crédito e os investimentos privados, idem. Tudo isso produzindo uma
reação do PIB que talvez não seja suficiente para fazer 2012 fechar com
uma taxa de crescimento mais expressiva, mas que indicará que 2013 será
bem melhor.
Em 2008/2009, muita gente apostou na crise. Foram apostas políticas e econômicas. Tanto umas quanto outras foram frustradas.
A oposição se aniquilou quando os brasileiros perceberam que houve
alarmismo e a parcela do empresariado que demitiu “preventivamente”
perdeu muito dinheiro porque abriu mão de empregados que lhe fariam
falta mais adiante. E, como se não bastasse, ainda teve que pagar
indenizações vultosas para demitir.
Os empresários não cairão na conversa do PIG de novo.
Estamos vendo ocorrer o auge da crise na Europa, que, por óbvio –
pelo tamanho da economia da União Européia –, faz o mundo sentir seus
efeitos. No Brasil, porém, tais efeitos têm sido surpreendentemente
tímidos. Tão tímidos que os brasileiros pouco estão sentindo.
Recentemente, participei de uma feira de máquinas de construção e o
clima era de euforia.
Mais uma vez, o setor público deve liderar a reação da economia e
isso continua sendo inaceitável para a oposição e a mídia neoliberais,
que, novamente, tratam de tentar alarmar a sociedade, o mercado e,
sobretudo, os investidores na esperança de construírem uma profecia
autorrealizável que ajude a dissipar o FGF (Feel Good Factor, o fator
sensação de bem-estar) da população.
Quando Dilma alude ao arsenal de medidas que tem para tomar a fim de
impedir estagnação ou piora da economia, ela sabe do que fala.
Com juros reais (juros nominais menos taxa de inflação) ainda altos
devido à inflação cadente em maior velocidade do que a da Selic, com
bancos públicos forrados de recursos para investir e com um contingente
imenso de brasileiros que ainda estão de fora do mercado de consumo de
massas, e com um governo livre de dogmas ideológicos de direita ou
esquerda, estamos feitos.
O único risco que o Brasil corre é o do alarmismo
demo-tucano-midiático. Funcionou, em alguma medida, em 2008/2009.
Contudo, àquela época foi mais fácil porque o país sentiu mais os
efeitos da crise. Hoje é bem mais difícil, ainda que não seja
impossível. Por isso, análises como esta precisam ser difundidas. Vai
que…
No http://www.blogdacidadania.com.br/2012/06/quem-apostar-na-crise-vai-perder-de-novo/
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