A marginalização daqueles que não são marginais
Na carta, a professora da rede estadual de ensino, Márcia Freitas expõe algumas considerações sobre o movimento grev ista em favor de uma Educação de qualidade.
A greve dos professores da rede estadual de ensino da Bahia
Algumas considerações sobre a marginalização de não marginais
Os dias atuais evidenciam, claramente,
ao ritmo do carrossel das conveniências e necessidades, como os
interesses individuais sobrepujam-se às decisões da maioria em nome do
direito de liberdade de expressão. Também, aqui temos os dias da
contradição dos argumentos e julgamentos de ontem e a celebração pelo
culto cego à morte da memória política, através do incansável exercício
de silenciamento das vozes dos fantasmas que ameaçam expor o lixo
escondido embaixo do tapete vermelho, sobre o qual o rei nu desfila para
todos, mesmo sem enxergar ninguém, enquanto o povo inebriado pela
sedução da realeza inflama-se, aplaude e elogia a linda roupa do rei,
enquanto fazem ressoar o canto das sereias midiáticas…
Colegas professores, jogos metafóricos à
parte, devemos reavivar em nossas memórias, que, não só “a fome (…)
humilha a todos”, mas também o medo de lutar por igualdade de direitos;
distribuição justa de renda; equalização de oportunidades;
reconhecimento profissional; ética e tantas outras pautas que balizam a
soberania de uma nação e a autonomia de seus cidadãos.
Este movimento de greve, embora muitos
“ingenuamente” e outros nem tanto, julguem prejudicial à sociedade e, em
especial aos estudantes menos favorecidos economicamente; representa
nosso instrumento mais incisivo e direto, embora tão pacífico e educado.
Pois, simboliza a capacidade de demonstrar uma força gerada pela união
de muitos, um a um; dia após dia, num bravo e doloroso exercício de
resistência em nome do respeito que tanto almejamos para nós professores
e para a educação.
Sinceramente, eu não acredito que as
ações ou pensamentos de uma pessoa possam ser completamente manipulados
por outro, sem eu haja, minimamente, algum consentimento desta. Então,
pergunto: Onde está a consciência crítica sobre o papel das lutas de
classe? A unidade e a convicção desta categoria quando decidiu aderir à
greve? A irreverência dos sujeitos livres em um país democrático? E,
principalmente, o apreço à dignidade destes trabalhadores que,
atualmente, tem sido divididos e rotulados, pela opinião pública
modelada convenientemente, em dois grupos rivais: Os professores que
amam a educação e os estudantes contra os execráveis professores que não
querem trabalhar. Aqueles que não se importam com o presente ou o
futuro dos estudantes e suas famílias e, por isto, inventam greves com o
intuito de prejudicar a toda sociedade, enquanto “aproveitam as férias
forjadas”.
Os membros deste segundo grupo, tem sido
facilmente “confundidos” com toda sorte de marginais e, por isso,
apaga-se da memória coletiva tudo de valioso que estes indivíduos tenham
feito honrosamente em suas salas de aula. E daí em diante, todos, dos
mais pacatos e gentis aos mais toscos e explosivos, são autorizados e
instigados por este imaginário coletivo truculento a agirem com todas as
formas de ofensas, humilhações e menosprezo contra estes profissionais
que são marginalizados por buscarem, minimamente e de forma pacífica,
usufruir de direitos conquistados historicamente e legalmente previstos;
ainda que há alguns dias, costumassem ser chamados de companheiros;
professores; amigos; colegas, parceiros. Quanta controvérsia na Bahia de
todos nós…
E agora, onde está esta prosaica
parceria entre a escola (professores) e a sociedade? E o estado protetor
dos interesses coletivos? E os oradores palanquianos e seus discursos
febris em torno da defesa da educação pública? E as ponderações e o
bom-senso? E o sentido de coletividade?
Reflitamos, ponderemos e assumamos as
conseqüências dos nossos atos. Pois, se desistirmos agora, não mais nos
caberá e, ainda, por muito mais tempo, o direito de queixa a respeito do
descaso para com a educação e todos os profissionais que a ela
estiverem vinculados (efetivos ou contratados). Posto que não haverá
mais a distinção entre grevistas e não grevistas, bons e maus… Restará,
apenas, a assombrosa sensação de inexistência e/ou submissão de um grupo
de pouco mais de trinta e sete mil trabalhadores (37.794 efetivos)
dóceis por serem incapazes de lampejos de indignação se, por ventura,
algum cidadão, “distraidamente confundir” seu árduo labor com conceitos
filantrópicos baratos, próprios de folhetins perniciosos e igualmente
desprezíveis.
Façamos, nós, nossas próprias escolhas.
E, assim, já teremos vencido uma vez: Vencido o medo de escolher e
assumir o que pensamos. Se estivermos unidos em torno de um propósito
maior e justo, teremos vencido pela segunda vez: Vencido o medo de fazer
escolhas e acreditar que estas podem dar certo. Se conseguirmos
alcançar o objetivo almejado, teremos vencido pela terceira vez e,
então, teremos a prova de que sempre valerá a pena lutar pelos nossos
direitos e sonhos, ainda que o percurso seja árduo e o preço muito caro.
Levaremos a certeza que juntos somos muitos e muito fortes.
Mas, se por algum infortúnio, ou injustiça, formos derrotados, ainda assim, poderemos aprender algo:
A certeza de que não nos acovardamos quando foi necessário lutar;
A certeza que precisaremos sempre uns dos outros;
A certeza que a História muda sempre que a sociedade muda;
E que nós somos o povo que faz a história da sociedade.
Então, levantaremos nossas cabeças e
seguiremos mais uma vez, movidos pela crença de que tudo é transitório e
que não há forma de poder que não possa ser mudada…
Colegas professores; pais e estudantes,
estejamos unidos pela valorização dos profissionais da educação e por
uma educação de qualidade para todos. Pois, a luta pelas causas da
Educação não diz respeito somente aos professores, é uma luta de toda a
sociedade.
No http://www.aplbsindicato.org.br/estadualeinterior/diversos/a-marginalizacao-daqueles-que-nao-sao-marginais/
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