quarta-feira, 6 de junho de 2012

A greve continua! "Pois, simboliza a capacidade de demonstrar uma força gerada pela união de muitos, um a um; dia após dia, num bravo e doloroso exercício de resistência em nome do respeito que tanto almejamos para nós professores e para a educação."

A marginalização daqueles que não são marginais

Na carta, a professora da rede estadual de ensino, Márcia Freitas expõe algumas considerações sobre o movimento grev ista em favor de uma Educação de qualidade.
A greve dos professores da rede estadual de ensino da Bahia
Algumas considerações sobre a marginalização de não marginais

A marginalização daqueles que não são marginaisOs dias atuais evidenciam, claramente, ao ritmo do carrossel das conveniências e necessidades, como os interesses individuais sobrepujam-se às decisões da maioria em nome do direito de liberdade de expressão. Também, aqui temos os dias da contradição dos argumentos e julgamentos de ontem e a celebração pelo culto cego à morte da memória política, através do incansável exercício de silenciamento das vozes dos fantasmas que ameaçam expor o lixo escondido embaixo do tapete vermelho, sobre o qual o rei nu desfila para todos, mesmo sem enxergar ninguém, enquanto o povo inebriado pela sedução da realeza inflama-se, aplaude e elogia a linda roupa do rei, enquanto fazem ressoar o canto das sereias midiáticas…
Colegas professores, jogos metafóricos à parte, devemos reavivar em nossas memórias, que, não só “a fome (…) humilha a todos”, mas também o medo de lutar por igualdade de direitos; distribuição justa de renda; equalização de oportunidades; reconhecimento profissional; ética e tantas outras pautas que balizam a soberania de uma nação e a autonomia de seus cidadãos.
 Este movimento de greve, embora muitos “ingenuamente” e outros nem tanto, julguem prejudicial à sociedade e, em especial aos estudantes menos favorecidos economicamente; representa nosso instrumento mais incisivo e direto, embora tão pacífico e educado. Pois, simboliza a capacidade de demonstrar uma força gerada pela união de muitos, um a um; dia após dia, num bravo e doloroso exercício de resistência em nome do respeito que tanto almejamos para nós professores e para a educação.
Sinceramente, eu não acredito que as ações ou pensamentos de uma pessoa possam ser completamente manipulados por outro, sem eu haja, minimamente, algum consentimento desta. Então, pergunto: Onde está a consciência crítica sobre o papel das lutas de classe? A unidade e a convicção desta categoria quando decidiu aderir à greve? A irreverência dos sujeitos livres em um país democrático? E, principalmente, o apreço à dignidade destes trabalhadores que, atualmente, tem sido divididos e rotulados, pela opinião pública modelada convenientemente, em dois grupos rivais: Os professores que amam a educação e os estudantes contra os execráveis professores que não querem trabalhar. Aqueles que não se importam com o presente ou o futuro dos estudantes e suas famílias e, por isto, inventam greves com o intuito de prejudicar a toda sociedade, enquanto “aproveitam as férias forjadas”.
Os membros deste segundo grupo, tem sido facilmente “confundidos” com toda sorte de marginais e, por isso, apaga-se da memória coletiva tudo de valioso que estes indivíduos tenham feito honrosamente em suas salas de aula. E daí em diante, todos, dos mais pacatos e gentis aos mais toscos e explosivos, são autorizados e instigados por este imaginário coletivo truculento a agirem com todas as formas de ofensas, humilhações e menosprezo contra estes profissionais que são marginalizados por buscarem, minimamente e de forma pacífica, usufruir de direitos conquistados historicamente e legalmente previstos; ainda que há alguns dias, costumassem ser chamados de companheiros; professores; amigos; colegas, parceiros. Quanta controvérsia na Bahia de todos nós…
 E agora, onde está esta prosaica parceria entre a escola (professores) e a sociedade? E o estado protetor dos interesses coletivos? E os oradores palanquianos e seus discursos febris em torno da defesa da educação pública? E as ponderações e o bom-senso? E o sentido de coletividade?
Reflitamos, ponderemos e assumamos as conseqüências dos nossos atos. Pois, se desistirmos agora, não mais nos caberá e, ainda, por muito mais tempo, o direito de queixa a respeito do descaso para com a educação e todos os profissionais que a ela estiverem vinculados (efetivos ou contratados). Posto que não haverá mais a distinção entre grevistas e não grevistas, bons e maus… Restará, apenas, a assombrosa sensação de inexistência e/ou submissão de um grupo de pouco mais de trinta e sete mil trabalhadores (37.794 efetivos) dóceis por serem incapazes de lampejos de indignação se, por ventura, algum cidadão, “distraidamente confundir” seu árduo labor com conceitos filantrópicos baratos, próprios de folhetins perniciosos e igualmente desprezíveis.
Façamos, nós, nossas próprias escolhas. E, assim, já teremos vencido uma vez: Vencido o medo de escolher e assumir o que pensamos. Se estivermos unidos em torno de um propósito maior e justo, teremos vencido pela segunda vez: Vencido o medo de fazer escolhas e acreditar que estas podem dar certo. Se conseguirmos alcançar o objetivo almejado, teremos vencido pela terceira vez e, então, teremos a prova de que sempre valerá a pena lutar pelos nossos direitos e sonhos, ainda que o percurso seja árduo e o preço muito caro. Levaremos a certeza que juntos somos muitos e muito fortes.
 Mas, se por algum infortúnio, ou injustiça, formos derrotados, ainda assim, poderemos aprender algo:
 A certeza de que não nos acovardamos quando foi necessário lutar;
 A certeza que precisaremos sempre uns dos outros;
 A certeza que a História muda sempre que a sociedade muda;
 E que nós somos o povo que faz a história da sociedade.
 Então, levantaremos nossas cabeças e seguiremos mais uma vez, movidos pela crença de que tudo é transitório e que não há forma de poder que não possa ser mudada…
 Colegas professores; pais e estudantes, estejamos unidos pela valorização dos profissionais da educação e por uma educação de qualidade para todos. Pois, a luta pelas causas da Educação não diz respeito somente aos professores, é uma luta de toda a sociedade.

No http://www.aplbsindicato.org.br/estadualeinterior/diversos/a-marginalizacao-daqueles-que-nao-sao-marginais/

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